Lume Lavoie - Sem Filtros

Chegadas, partidas e toda a confusão do meio.

Textos

Será que esse macho vende na shoppe?

Às vezes eu penso que tudo que eu queria era um namoradin.
Não um príncipe, nem um coach de masculinidade.
Só um cara com a alma limpa o suficiente pra me foder com presença.

Queria alguém que entendesse que prazer não é só mood britadeira,
é intenção.
Alguém que me comesse com vontade e depois deitasse no meu colo
pra falar mal da elite, conspirando sobre quando a revolução vai acontecer.

Eu juro que tentei.
Tentei entender o raso.
Os que se dizem intensos mas somem na segunda mensagem,
porque me acham gostosa demais e falante demais
quando argumento melhor sobre algo que ele jura saber.
E nem é competição — é só opinião não segmentada
por medo da repressão ou da aprovação masculina.

Tem também os que transam como se estivessem competindo com o espelho.
Espelho, espelho meu, existe alguém mais alfa e bodybuilder do que eu?

Tem os do papo da liberdade.
E tudo bem — quando é liberdade pra ambos.
Mesmo que a relação seja só de cama, que haja respeito.
Que haja interesse, não só conveniência.

E eu fico aqui, tentando entender
como pode tanto pau com tão pouca poesia.

E olha, não tô falando que é necessário ler Noites Brancas do Dostoiévski.
(Citei porque eles adoram. Mais ainda o Bukowski — há fascínio, confesso,
mas corre se essa for a única referência literária dele.)

Tô falando de um homem que saiba respirar comigo.
Que me coma com a consciência de que meu corpo está ali,
em sintonia, inteiro, entregue.
Que medite de manhã e ria comigo à tarde.
Que acenda um baseado no pôr do sol,
e ainda lembre que eu gosto do brigadeiro mais queimadinho.
Que se sinta livre pra reclamar do chefe, da grana, dos problemas reais.

Tem dias que eu só queria isso.
Fazer um sexo bom e depois ver o Fantástico.
Rir de alguma notícia absurda e falar:
“Vamo estudar pra sair dessa merda juntos?”

Mas esse namoradin não veio.

Veio o cansaço.
Veio a solidão que eles mesmos provocam e que também sentem,
mas são homoafetivos demais pra pensar em considerar
uma conversa honesta e fluida com uma mulher.

Veio a falta de noção, de tato, de coragem pra amar.


Eu fico aqui com meus sonhos de domingo. (sem opção né manas)
Com a xícara de chá, os livros marcados e a cama vazia.
Desejando um taradão com consciência política
que saiba gozar e também dialogar.

Se vende na shoppe, alguém me envia o link, ja que eu mesmo cansada. Mesmo brava.
Mesmo sabendo.
Continuo querendo.
Lume Lavoie
Enviado por Lume Lavoie em 29/03/2025


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