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Royal Flush e Rivotril
Se todos fossem fartos, o estrago seria maior — então ainda bem que não. Se toda dor virasse prazer, eu voltava pra você. Segunda: um corpo diferente. Terça: outro. Quarta: um drink apressado pra descer as incertezas. Cheiro de baunilha, meias conversas que quase valem meu entusiasmo, mas despencam pro limbo do quase assim que o teor sexual se sobressai. Tragadas longas de esperança pelo próximo. Quinta: cachos no cabelo, olhar marcado, fitando alguém que eu mal sei como chegou ali. Engole mais uma dose, sorri entre pausas. Royal flush dele. Game over meu. Sexta: volto pra cama ocupada com o vazio. Mais vazio que os corpos que usei — ou que me usaram. Rivotril pra dormir. Sonhos pesados, silêncios leves. Sábado: vamos trabalhar. Me sinto usada. Mais que quando escolho me deitar com estranhos por alguns minutos duvidosos. Domingo: repulsa. Mas só até o ciclo recomeçar. Desdenho da minha própria superficialidade, mas ainda mais do fato de isso ser o mais profundo que a maioria das pessoas consegue ser.
Lume Lavoie
Enviado por Lume Lavoie em 22/03/2025
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