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Cereja
Eu gosto do teu cheiro.
De força, cigarro, desejo e Tom Ford. Gosto do teu cabelo — mais brilhante que o meu. Da tua barba farta, aparada, com um potencial quase nuclear… mas que me desarma em silêncio, regressivamente. Gosto do grave da tua voz. Das tuas palavras escolhidas com pressa, das justificativas erradas que não enganam ninguém. Das tuas procuras por saídas e dos argumentos nada planejados. Me prende, até quando tenta escapar. Gosto do tom da tua pele. Ponto. Da maciez contrastando com a presença imponente de quem parece que destruiria qualquer uma num tapa — mas me acalma. Gosto do teu movimento. De como tu desliza sem pedir licença, da tua segurança. E da tua quase vulnerabilidade que aparece, rara, quando tu baixa a guarda por dois segundos e volta a vestir o escudo logo em seguida. Gosto das tuas mãos nas minhas. Rápidas. E das mil juras que eu inventei na minha cabeça enquanto tu só dizia “vem cá”. Gosto do teu abraço apertado, com intenções claras, com urgência, como se o tempo fosse curto. 34 anos. 1,84 de altura. Tu tem esse número de homem feito, mas teu gosto ficou em mim como um traço da minha adolescência tardia. Gosto do cheiro do teu carro. Desarrumado, sincero. Gosto da tua roupa casual, sem esforço, mas que prende meu olhar como se tivesse sido milimetricamente pensada. Eu te vi rápido demais. Gosto do teu levantar sem olhar pra trás. Como se fosse natural me deixar com vontade. Como se o tempo junto fosse só o intervalo entre duas vidas completamente separadas. Gosto da fantasia. Sou apegada às entrelinhas. Sou grande. Errante. Intensa mesmo que meus instintos gritem não, eu quero ir alem dos seus limites e implorar que fique, na vida, na cama comigo por dois minutos mais. E adivinha só? Quem é que se fodeu de toda forma?
Lume Lavoie
Enviado por Lume Lavoie em 22/03/2025
Alterado em 23/03/2025 Comentários
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