Lume Lavoie - Sem Filtros

Chegadas, partidas e toda a confusão do meio.

Textos

Carta pra um crush que nem sabe que é Premium
E. G.
Em 2018, numa quarta-feira qualquer, lá estava eu indo pro projeto de extensão, usando aquele perfume Capricho Rock’n’Roll — juvenil demais, eu sei. Sem linhas de expressão no rosto, com um coque improvisado e achando que feminismo era citar Frida Kahlo e escrever textão no Facebook. Eu tava penteada, cheirando até demais pra nao dizer sufocando a sala, carregando uma prancheta pesada e odiando aquela camiseta do projeto.

Tu tava lá. Câmera na mão, cabelo rebelde, tatuagens vivas, alargador. Um ar de quem destroça mocinha de esquerda sem muita noção da vida (mesmo que naquela época eu talvez tivesse mais noção do que tenho hoje). Faceiro demais pra quem tava filmando um documentário dentro de uma prisão. E foi nesse cenário esquisito que a gente se cruzou.

Tu me passou teu WhatsApp pra compartilhar uns vídeos do projeto. Não lembro bem até onde chegou o flerte, só lembro de sentir um ranço imenso e um desejo absurdo ao mesmo tempo. Bloqueei teu número por algum motivo — talvez tu não tenha mandado os vídeos, talvez eu tenha feito cu doce e tu pegou ranço também, sim eu era a rainha do cu doce, decadência ou liberdade eu ter me atirado tão rápido pra você? (Antes e agora)
Só sei que ficou daquela época lembrança difusa.

Corta pra hoje. Mesma intensidade, mesmo ranço e o mesmo desejo, só que consumado. E ainda assim, querendo mais.

Eu sei que não deveria, que ainda sou, no fundo, a menina de coque e óculos, meio tímida, porem vestida com decote master, e habilidades com a boca. Fui tua pornstar por uns minutos e deveria ser o suficiente. Só que não foi.

Passei a noite inteira com a mente num looping, tipo assim:
Primeiro pensamento: “Como é que uma gozada na boca pode ter um gosto tão bom?”
Segundo: “Eu faria isso todo dia. Sem exagero.”
Terceiro: “Pera. Eu quero estar grávida desse homem. Oi?”
Quarto (o pior): “Domingo de manhã. Eu fazendo café, ele falando da semana puxada, nossa filha chegando e tomando a atenção dele. E eu olhando, apaixonada.”

Esses quatro pensamentos em sequência. Tudo em menos de três segundos. Juro. Foi um curto-circuito. Aí respirei fundo, olhei pra minha vida real, pra aliança no meu dedo, que puta hipocrisia querer prender alguem a mim quando eu sou prisioneira de outro alguem, e fiquei me perguntando se tudo isso era uma vantagem, uma desvantagem ou só um desencontro do destino. Talvez só mais uma piada cósmica.

No fim, sempre foi sobre mim: meus óculos embaçados, minhas omissões, meus medos, meus desejos todos projetados em um homem que nunca sequer soube 1% do que pensei sobre ele.

Eu te amo, sabia? Kkkkk calma, eu amo todos que duram mais de um dia. Às vezes até os que irradiam meu corpo em cinco minutos de conversa, então tu não é especial, e nem digo isso pro meu ego, digo que é projeção minha a tua imagem o meu ideal,  ainda assim o teu real, tu... tu tá num pedestal meio disputado, meio absurdo, mas ainda assim: um baita lugar pra estar.

Eu não quero terminar me lamentando. Porque o curso da vida é incerto, e a noção que eu tinha aos 19 anos se tornou minha inimiga uma vez que meu feminismo foi enfiado no cu depois de me apegar a uma foda que nem gozei.
Se for pra sofrer, que seja por escolha.

Eu poderia escrever um poema fofo, uma fanfic erótica ou uma crônica de recomeço ou autoamor. Mas não. Eu escolhi me expor. Te expor. Expor essa porra toda pro caos.
Porque fui assim contigo desde o começo,  real e crua, efêmera e finita.

S.
Ou
J.H
Lume Lavoie
Enviado por Lume Lavoie em 22/03/2025
Alterado em 22/03/2025


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