Lume Lavoie - Sem Filtros

Chegadas, partidas e toda a confusão do meio.

Textos

Sobre botas e homens.
A decisão foi simples e objetiva: eu precisava de uma bota de couro. Estilizada, imponente. Uma bota que dissesse: “Não estou aqui para agradar ninguém, mas se por acaso agradar, paciência.”

O que não foi tão simples foi perceber o que essa busca representava. Porque, sejamos honestos, dirigir 45 quilômetros por causa de uma bota? Objetivamente, era perda de tempo. Mas entre uma curva e outra, pensei — To watch the boys não é o que preciso agora. Então aumentei o volume de Highway to Hell e, enfim, entendi o que aquela bota significava para mim.

Que queimasse no inferno o filho da puta, atraente, carregando um sotaque charmoso e uma capacidade extraordinária de ser… só um cara.

E essa história não é sobre ele. Ele sequer merece um parágrafo inteiro.

O ponto é que, em outro momento, eu poderia estar gastando esse sábado pensando em mensagens não respondidas, em coincidências que nunca foram coincidências ou em teorias ridículas sobre olhares e significados ocultos. Mas hoje a prioridade era outra: ir atrás de algo que fizesse sentido e, de quebra, encher a cara em uma festa de rock sem precisar fingir interesse ou buscar validação.

Não havia intenção. Nenhuma. Sem mensagens subliminares, sem flertes calculados, sem aquele joguinho de “como será que ele vai reagir?” Pensei nisso, revirei os olhos.

Seria só um bar, um som decente, uma bebida aceitável e eu, satisfeita com uma missão clara: curtir o ambiente e, no máximo, questionar minha existência ao som de um solo de guitarra, ciente de que a única coisa que importava era que, finalmente, elas estavam nos meus pés.

E por mais que essa narrativa tivesse tudo para virar uma metáfora sobre autodescoberta ou independência, a verdade é que não havia mensagem profunda.

Era só uma bota. Uma conquista pessoal sobre fazer algo por mim mesma.

E talvez esse seja o ponto.
Lume Lavoie
Enviado por Lume Lavoie em 03/03/2025


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