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O que não escrevi pra ele, desabafei aqui...
Carta a A. do Olho do Furacão
Você viu, estava ali, no epicentro da tormenta. Viu a parte serena do caos, mas eu... eu era o próprio furacão. Arrastando tudo no caminho, estilhaçando certezas, ruindo e destruindo, inclusive a mim mesma. Respirou os ventos que eu levantei, sentiu os respingos, mas permaneceu imóvel, como quem assiste um incêndio de longe, ainda sentindo o calor. Mas o que você não sabe, A. é que você também foi um furacão para mim. Chegou sem aviso, tocou meu coração com palavras que deslizavam entre o poético e o cruel, desafiando minha sanidade, dobrando minha razão. Estaria eu caindo na ladainha de um estranho do outro lado do oceano? Não. Eu despenquei. Me permiti. E você assistiu a queda, confuso, cauteloso... talvez com um sorriso de canto de boca. Nunca questionei suas razões, mas das minhas, jamais duvidei. Eu amei você. Eu amo você. Efêmero, tardio, inesperado—essa porra toda eu deveria ter sentido aos 13, aos 21, mas senti agora, e só por você. E sinto sozinha, porque sentir, por si só, já é um ímpeto do caralho. Quando os ventos se dissipam e a tempestade passa, a gente vê a bagunça que ficou, um eufemismo para dizer "devastação". Mas também, A. também se enxerga a grandiosidade e a beleza da reconstrução. E sabe... eu passaria pelo caos outra vez, absorveria cada fodida sensação dele, só para acessar, por um instante que fosse, a maré silenciosa do seu sentir.
Lume Lavoie
Enviado por Lume Lavoie em 01/03/2025
Alterado em 02/03/2025 Comentários
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